segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Mediação de leitura com o livro "TOMBOLO DO LOMBO", de André Neves...


Mediação de leitura com o livro "TOMBOLO DO LOMBO", de André Neves...



  • Nós apresentamos o livro em forma de brincadeira, começamos com nove crianças e o Boi entrando ...
  • Entramos cantando o tangolomango, o livro foi todo cantado, fizemos uma brincolagem ...
  • Conforme os personagens do texto iam desaparecendo as crianças iam saindo da roda, até ficar somente a Catirina Linguaruda!
  • Depois todos voltam para a festa do Boi,a ressurreição do Boi!


ESSA É UMA HISTÓRIA

COM A LÍNGUA COMPRIDA,

BOI DA CARA PRETA,

BOI DA ROUPA ESQUISITA.



QUE BOI É ESSE, MINHA GENTE?

ANIMADO, SÓ QUER DANÇA.

CHAMOU NOVE MÚSICOS

PARA A FESTA COMEÇAR.



MAS UM DELES DESEJOU

COMER A LÍNGUA DO BOI,

TOMBOLO DO LOMBO

VAMOS DESCOBRIR QUEM FOI?



O TAMBORIM DO CORONEL

DESAFINA UM TOM AFOITO,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS NOVE FICARAM OITO.



A ÍNDIA, POR ELE APAIXONADA,

NÃO SABIA TOCAR TROMPETE,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS OITO SOBRARAM SETE



O RECO-RECO ERA FALSO,

IGUAL A CABOCLO CHINÊS,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS SETE RESTARAM SEIS.



O PADRE, PARA AMENIZAR,

TOCAVA A FÉ, BATIA O SINO,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS SEIS RESTARAM CINCO.



CAZUMBÁ TINHA MARACÁ,

MAS CANTAVA QUE NEM GAGO,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS CINCOS FICARAM QUATRO.



O JARAGUÁ SOPROU A CORNETA,

NÃO ESPEROU A SUA VEZ,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS QUATRO SOBRARAM TRÊS.


BASTIÃO APERTOU A CUÍCA,

PRO CHÃO FOI LOGO DEPOIS,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS TRÊS FICARAM DOIS.


MATEUS QUEBROU O XEQUERÊ,

E O BOI SOLTOU UM PUM,

TOMBOLO DO LOMBO

DOS DOIS RESTOU SÓ UM.



O UM É CATIRINA, A LINGUARUDA,

INVENTADEIRA DE CANÇÃO,

TOMBOLO DO LOMBO
E ACABOU-SE A CONFUSÃO.



TOMBOLO DO LOMBO

ALEGRA ATÉ QUANDO CHOVE.

BUMBA MEU BOI É DIVERSÃO,

E ASSIM VOLTARAM OS NOVE.


  • Aqui as crianças voltam para a ressurreição do Boi, eles cantam a música...
  • O Boi levanta e começa a brincadeira...

Vamos criançada
Vamos cantar.
Vamos para roda
 Vamos ver o boi dançar.

Levanta boi
Levanta pra dançar.
Levanta boi
Levanta pra brincar

Essa foi uma história
Com a língua comprida
Boi da cara preta
Boi da roupa esquisita.

Que boi é esse minha gente?
Animado , só quer dançar.
Chamou a criançada
Para a festa terminar... 

  • Então falei sobre o livro, é inspirado na cantiga de roda, tangolomango e uma das versões do Bumba meu Boi. A lenda diz que havia um casal de escravos, pai Chico e Catirina trabalhavam em uma fazenda, Catirina estava grávida e sentiu vontade de comer a língua do Boi mais bonito e dançador daquela fazenda. Pai Chico para fazer a vontade da esposa, corta a língua do Boi e dá a ela, o Boi ficou doente e morreu!      Então para dar vida novamente ao Boi o fazendeiro chama os índios para fazer um ritual, daí o Boi volta a vida. 
    Aqui em Santa Catarina nós também temos uma versão que é o Boi de Mamão.

  • Citei algumas palavras do autor para os professores... "precisamos mostrar para as crianças que a leitura é muito mais ampla que o livro, que o imaginário pode ser maior que o livro. Precisamos ampliar o olhar, não só para leitura literária, mas para a leitura de vida...
Aprender a ler livros,Aprender a ler imagens,Aprender a ler música,Aprender a ler arte,Aprender a ler o ser humano e respeitar as pessoas!"

ANDRÉ NEVES













Brincar com a língua!
25.05.2016
|
Maria Cristina Perez Vilas



Nossa linguagem não tinha função explicativa, mas só brincativa.
Manoel de Barros



Brincadeira não é só coisa de criança. É também de escritor e ilustrador brincante. A criança desloca a palavra do lugar, vira pelo avesso a ordem das coisas: axílabas, chutebol, quilózinho1. Escritores e ilustradores brincantes também, ao romperem com o estabelecido, com a linguagem autorizada: Tombolo do Lombo.

Essa língua que encanta, língua que foi feita para brincar, “com trajes de final de semana”, carregada de afeto e que também fala de mundos desconhecidos, está sobretudo nos livros. Livros de escritores que nos fazem pensar poeticamente. Livros como Tombolo do Lombo de André Neves, premiado escritor e ilustrador.


Como em uma bricolagem, neste livro, Neves inspirou-se na cantiga de roda Tangolomango, em uma das versões do folguedo Bumba-meu-Boi, e criou uma nova brincadeira.

O Tangolomango é uma cantiga ou parlenda longa, com “estrutura cumulativa descrescente”, em que, ao final de cada verso, uma criança deixa o brinquedo2, até não restar nenhuma.  Já a Festa do Bumba-meu-Boi é uma das mais populares do Brasil. Dependendo da região do país, a brincadeira tem nome e jeitos diferentes, mas conta  quase sempre a mesma história: o renascimento do boi depois de morto.

Assim, embolando cantiga e folguedo, Neves inventa uma nova parlenda. Transforma Tangolomango em Tombolo do lombo, inserindo o boi mágico e misterioso e algumas personagens: Coronel, Cabloclo, Índia, Cazumbá, Catirina... Para participar da brincadeira, convida o leitor, que é  desafiado a descobrir qual brincante deseja comer a língua do animal.


Que boi é esse, minha gente?
Animado, só quer dançar
Chamou nove músicos
Para a festa começar

Mas um deles desejou
Comer a língua do boi,
Tombolo do lombo
Vamos descobrir quem foi?

O tamborim do coronel
Desafina um tom afoito
Tombolo do lombo
Dos nove ficaram oito



Tombolo do Lombo, assim,  apresenta os brincantes e utiliza uma das variações mais comuns do folguedo Bumba-Meu-Boi: o desejo de Catirina, grávida,  comer a língua do animal. A fórmula de inversão é respeitada, como também o é a base ritmada. No balanço do lombo do boi, os músicos são lançados ao céu ou ao chão, até sobrar o último. Diferente das versões tradicionais de Tangolomango, nas quais os personagens “desaparecem” ao final,  Tombolo, festa do boi, é diversão que não acaba.

Nascido em Recife, André Neves, sem didatismos, compartilha conosco suas raízes culturais. Em entrevista a Wendell de Oliveira Albino, o escritor afirma que as festas, a arte popular, a dança e a música de Pernambuco têm reflexos em sua obra3 . Essa não é a primeira vez que temas da cultura popular ganham as páginas dos livros de André: Sebastiana e Severina,  Maroca e Deolindo são outros títulos nessa estante. Mas o imaginário do escritor não está presente apenas na temática, os traços característicos do ilustrador - olhos miúdos, nariz alongado - também é alimentado por artistas nordestinos como Reinaldo Fonseca, Abelardo da Hora, Homero de Andrade e Lima, entre outros4.


Além da originalidade da narrativa, outros destaques do livro são a ilustração e o projeto gráfico, pelos quais André Neves também é responsável.

Não é só a imagem que nos atrai, mas como ela é apresentada. O Boi, dono da festa, se anuncia, trazendo com ele a história. Um passáro5 se equilibra em um dos chifres.  A leveza dessa imagem dá-se não só pelo pássaro pousado no símbolo representativo da força do boi, mas pela impressão de que esse animal flutua solene no canto da página esquerda. A página nobre está vazia, mas repleta de possíveis sentidos. É o dono da festa pedindo licença para se apresentar?

A seguir, na virada da página, deparamo-nos com o boi inteiro, coberto por tecidos coloridos, bordados com desenhos de cores vibrantes que remetem a mandalas e pedras preciosas, lantejoulas, rendas, fitas.  Nesta página surpreende a desconstrução da imagem póetica de que o boi flutua. O boi não flutua, mas gira alto, dança vigorosamente e empina o rabo.

Além da sonoridade e da força rítmica, a expressão Tombolo do lombo é também escrita tecida no corpo do boi. Ela é enfatizada em seu caráter icônico, uma vez que a tipografia escolhida remete a letras em movimento, como se repetissem o giro e a dança do animal no espaço das páginas. 


Neves chama a atenção para o livro como objeto. De forma lúdica e nada convencional, somos desafiados como os músicos no lombo do boi. A diagramação das primeiras páginas duplas se repete e a narrativa se desenrola no sentido horizontal como em um livro tradicional. Entretanto, no encadeamento das páginas seguintes haverá uma inversão do sentido da leitura do livro, e um efeito de ruptura poderá surpreender as expectativas do leitor. Como convidados dessa festa, vamos acompanhando a dança do boi, e rodopiamos e giramos, conforme a diagramação da narrativa. É um livro para se ler com os olhos e as mãos!


Diante do que foi dito, é de pensar se, embora você já tenha lido o texto até aqui, não seria mais importante abrir Tombolo do Lombo, e experimentar a linguagem proposta por André Neves. Linguagem em função brincativa, como afirmou Manoel de Barros, e não explicativa, como escrevo até a última linha deste parágrafo.
Notas:
  1. O que as crianças pensam sobre… – As Palavras das Crianças.  Sim, toda criança pode aprender. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2016.

  2. CASCUDO, Luis Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

  3. Entrevista André Neves. Caros Ouvintes: Instituto de Estudos em Mídia. Disponível aqui. Acesso em: 19 maio 2016.


  4. Entrevista: André Neves. Escrevendo o Futuro. Disponível aqui. Acesso em: 19 maio 2016.

  5. Pássaro é uma das paixões de André Neves e outra marca característica de seus livros.
Maria Cristina Perez Vilas
Nasceu em São Paulo, mas escolheu Sorocaba para viver mais feliz. É pedagoga e mestre em Linguagem e Educação, pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Há 20 anos trabalha com formação de professores nas áreas de Leitura, Literatura Infantil e Produção Cultural para a Infância. No final da década de 90, iniciou seu trabalho com Literatura Infantil, participando do Projeto Laboratório de Literatura Infantil (FEUSP), que visava auxiliar professores na pesquisa de livros de literatura para crianças. Durante dois anos, coordenou a implantação e implementação do Projeto Bebeteca e a reestruturação das Salas de Leitura da rede municipal de ensino de Sorocaba. Além de livros, gosta de café, discos, pessoas e, claro, seus animais de estimação. Quando a alma pede um pouco mais de calma, lê poemas ou procura o mar!


  • Oficina do boi ... Trabalhamos juntas, eu e a professora Rita, minha grande parceira!



  • As imagens do manto do Boi foram confeccionadas pelos meus alunos do 2º e 3º ano, desenhamos as imagens no tecido cru e eles pintaram com tinta de tecido.
       





























  • Produção do gênero textual tangolomango, fizemos a produção do 3º ano coletiva...

Tangolomango

Dez gatos a miar,
Deu um samorolango.
Que remove,
Dos dez ficaram nove.

Nove cachorros a latir,
Deu um samorolango.
Por um biscoito,
Dos nove ficaram oito.

Oito porcos a grunir,
Deu um samorolango.
Porque um queria jogar basquete,
Dos oito ficaram sete.

Sete pássaros a voar,
Deu um samorolango,
Sobre os castelos dos reis,
Dos sete ficaram seis.

Seis leões a rugir,
Deu um samorolango.
Quando avistaram o ornitorrinco,
Dos seis ficaram cinco.

Cinco cobras a se enrolar,
Deu um samorolango.
Quando se olharam no retrato, 
Das cinco ficaram quatro.

Quatro jacarés a nadar,
Deu um samorolango.
Quando um começou a falar inglês,
Dos quatro ficaram três.

Três ursos a embernar,
Deu um samorolango.
Quando viram os bois,
Dos três ficaram dois.

Dois elefantes na África,
Deu um samorolango.
Quando um soltou um pum,
Dos dois restou só um.




Um comentário:

  1. Parabéns professora pelo envolvimento com a literatura, pois esta é carregada de significados, a literatura é plurissignicativa. Ela enche, preenche e nos deixa em estado de êxtase! Belíssimo trabalho

    ResponderExcluir