quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Projeto " CÍRCULO DE LEITURA"

Projeto "CIRCULO DE LEITURA"
Justificativa
Trabalho em uma escola do campo, com os alunos do 1º e 2º ano. A escola atende os alunos do pré-escolar ao 5º ano e temos também a Educação Integral integrada. Está localizada no bairro Medeiros, município de Barra Velha – Santa Catarina. A identidade da escola do campo é entendida, nesse contexto, não como uma escola restrita apenas a um espaço geográfico, mas vinculada aos povos do campo – os que vivem no meio rural com hábitos e costumes específicos, sem abrir mão de uma educação de qualidade nas diversas áreas do conhecimento. Trata-se de construir uma prática viva, cheia de vida e mergulhada na realidade do povo do campo. Nessa direção, esse projeto foi um convite às crianças a ingressarem em um ambiente mágico. As atividades propostas serviram de provocação e abertura para seduzir o leitor. Pois moramos no campo, mas em decorrência à modernidade e aos avanços tecnológicos, vários conceitos e costumes tem se perdido com o passar dos anos, e um deles é o ato de ler.
O hábito de leitura não tem sido muito valorizado, não só por parte dos alunos, mas também por parte de alguns professores e dos próprios pais. Então, tomo como ponto de partida a literatura concebida como objeto artístico e que gera mais do que conceitos, pois provoca, remexe e desconstrói o já estabelecido para criar novos caminhos. Como educadora do campo, preciso cada vez mais, comprometer-me com a formação humana dos meus alunos em todas as dimensões. Assim, a literatura tem um lugar especial dentro e fora da minha sala de aula, um lugar que foi o ponto de partida para o encantamento, a magia, o desconhecido que se desvela em cada encontro com as palavras. Isso promoveu o envolvimento meu enquanto educadora, das crianças, dos outros educadores da escola e da comunidade.
Este projeto tem como objetivo a formação de leitores tanto na escola como na comunidade. O tema instigou-me, pelo fato de ser um desafio, pois nós educadores temos uma grande tarefa: só podemos ensinar os alunos a serem leitores competentes, lendo muito com eles e para eles. Neste projeto o livro é apresentado como objeto estético e, desta forma, compreende-se que o mesmo desperta nas crianças o desejo de ler. Não basta que a escola promova o lúdico, a brincadeira e a leitura dentro de um clima de prazer. É fundamental que aprender a ler e a gostar de ler tenha um sentido na vida de cada aluno-leitor. Que a criança se sinta identificada com o livro lido. A escola é campo fértil para se produzir leitura, aliás, ela deve ser o espaço para o desenvolvimento dessas potencialidades, no que se inclui o tornar-se leitor.
Sou educadora e sei que ocupo um lugar muito especial na sociedade, trabalho com crianças cheias de vida, de histórias e de vivências. Então deixemo-nos invadir pelo universo daqueles que sonham com um travesseiro e uma colcha de retalhos. São esses pedaços de vida, de felicidade, que muitas vezes conservamos na memória, mesmo quando temos uma vida de correria em nosso dia a dia. São essas as recordações que temos das histórias que nossos avós, pais e professores nos contavam permeadas de palavras que muitas vezes faziam parte da nossa cultura e cheias de aventuras e imaginação dando sentido a grande teia da vida.
Nessas atividades que serão relatadas o ato de ler histórias encanta as crianças porque percorre pelo sentimento de cada leitor, invadindo universos repletos de significação. E ler deve ser algo que suscita o imaginário, desperta emoções e possibilita a fruição. Ler tem que ser algo desejado, pois a leitura abre horizontes, onde podemos encontrar os seres mais incríveis. Entendo a criança como alguém capaz de resguardar seu mundo de fantasia e é preciso que ela acredite que a leitura é a janela que se abre para conhecer os infinitos mundos dentro e fora de nós mesmos. É a possibilidade de ouvir, sentir e ver com os olhos da imaginação; é viajar sem sair do lugar, conhecer outros mundos e poder sonhar.
As atividades de leitura inseridas no cotidiano da turma trazem em si a contribuição no sentido de se construir uma comunidade de leitores mais humanos e sensíveis. Partimos para essa descoberta e ganhamos asas para voar, pois no mundo do “faz-de-conta”, tudo é possível: viajar pelo bosque onde mora o lobo, vestidos maravilhosos em noite de bailes... É um mundo onde todos os desejos são realizados. Quem não gostaria de viver assim, nem que fosse só até ao bater da meia-noite?

Objetivos

•Possibilitar aos alunos práticas de leituras que influenciem no processo de desenvolvimento individual, tanto na escola como também, ultrapassando os muros da mesma;
• Propiciar condições para que as crianças possam participar de práticas de leituras fruitivas, voltadas à manifestação de argumentos e socialização de experiências leitoras.
• Recontar histórias conhecidas, recuperando características da linguagem do texto original;
• Recitar e explorar as possibilidades lúdicas da linguagem no aspecto fônico: rima e ritmo (trava-língua, poema e parlendas);
• Apreciar textos literários compreendendo o livro como um objeto estético, produtor de prazer e reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entretenimento;
• Ampliar o repertório de histórias e autores conhecidos ao participar de situações que envolvam diferentes práticas de leitura (roda de leitores, ouvir histórias lidas pelo professor, leitura nas casas de moradores do bairro, leitura em mostras pedagógicas...);
• Promover interações com os professores da escola em diferentes situações de leitura que envolvam a música e os instrumentos musicais;

Conteúdos Curriculares
·         Apreciar textos literários.
·         Ler por si mesmo livros literários.
·         Ler textos conhecidos, como cantigas de roda, parlendas, poemas, trava-língua...
·         Regras de compartilhamento no espaço escola: ouvir falar.
·         Ordenar elementos de uma história com bases nas cenas.
·         Descrever personagens, cenários e objetos.
·         Recontar histórias conhecidas, recuperando características da linguagem do texto original.
·         Recitar e explorar as possibilidades lúdicas da linguagem no aspecto fônico: rima e ritmo.
·         Interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos.
·         Desenvolvimento de estratégias de argumentação para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos.

Metodologia

Introduzi a dinâmica falando um pouco do mundo simbólico e do “faz-de-conta”. Então, entreguei a cada criança um pedaço de fibra, preparando-as para o mágico e o fantástico. Disse que no mundo do “faz-de-conta” existe seres mágicos e que eles trabalham para realizar os desejos de todas as pessoas. Então solicitei as crianças que retirassem de dentro de uma caixinha mágica que eu trouxe, um papelzinho, no papel estava escrito o nome de algumas cantigas de roda e brincadeiras que foram enviadas para nós pelas fadas,
( Fui no tororó, Meu galinho, Boi da cara preta, Meu limoeiro, Mulher rendeira, Onde está a margarida, Capelinha de melão, Pela estrada a fora, Se essa rua fosse minha, Ciranda cirandinha, Fui na Espanha e Alecrim). Expliquei que deveríamos cantar essas cantigas porque as fadas adoravam músicas, e se cantássemos essas cantigas elas ficariam muito felizes e realizariam nossos pedidos. Então, cantamos as cantigas, combinamos que eu acompanharia as cantigas com o violão, pandeiro, palmas...











          Depois que todos pararam, pedi para que fechassem os olhos e fizessem um pedido para as fadas. Em seguida, de olhos abertos, todos imaginaram embrulhando esses pedidos no pedaço de fibra que receberam. Orientei que os pedidos deveriam ficar bem embrulhadinhos dentro da fibra. Expliquei que para a realização dos pedidos algumas palavras mágicas precisavam ser ditas. Assim, todos juntos deveriam repetir as palavras “Salamaleque, salamaleque...bico de pato...asas de vento...que meus três pedidos, três desejos e pensamento sigam a contento”.






Então apresentei uma capa de travesseiro, expliquei que iríamos confeccionar um travesseiro mágico. Solicitei que todas as crianças colocassem seus pedidos embrulhados na fibra dentro da capa,  assim formamos um travesseiro cheio de sonhos, de desejos. Depois alinhavei a capa com um fio de linha de forma que todos os pedidos ficassem ali dentro.
Quando terminamos de cantar pedi que as crianças procurassem em algum lugar na sala um objeto que as fadas haviam deixado ali, eles procuram e encontraram uma fronha de travesseiro feita com retalhos e dentro da fronha estava o livro “CADÊ MEU TRAVESSEIRO”, de Ana Maria Machado.






Ficaram surpresos com o achado! E então correram e me mostraram o que encontraram. Então fiquei muito surpresa também com o livro e a fronha, e questionei se alguém sabia explicar para que serviria aquela fronha e aquele livro?
Expliquei que a fronha serviria para colocar em nosso travesseiro mágico e colocamos. Convidei a todos para viverem um momento de aventura, falei que faríamos uma viagem pelo país das brincadeiras, das cantigas infantis e dos contos de fadas. De pergunta a sonolenta Isadora e passando pelo Tororó, pelo bosque onde mora o lobo e outros elementos das histórias infantis, chega ao aconchegante país do sono, onde um príncipe muito especial a espera! Assim é a história que vamos ler....
Então, solicitei que ficássemos em círculo, cada aluno com sua almofada, no centro estendi a colcha de retalhos e coloquei o travesseiro. Comecei a ler a história de maneira sedutora, prazerosa e envolvente, me mostrava para crianças uma leitora de histórias absolutamente apaixonada pelo mundo do “faz-de-conta”. No decorrer da leitura cantava as cantigas de roda sempre utilizando algum instrumento, violão, pandeiro e tambor. Elas estavam envolvidas afetivamente com o livro, na hora que eu começava a cantar ou fazer as brincadeiras de roda, todas me acompanhavam rapidamente, era uma troca de olhares que despertava o sentimento de pertença e identificação, além de nos inserir no contexto do livro. Quando terminei de ler, elas todas numa só voz pediram que eu lesse o livro novamente.















     Então é claro que atendi a solicitação, depois de ler o livro sugeri que cada criança levasse o livro um dia para casa junto com o travesseiro mágico, elas iriam ler o livro com sua família. Solicitei que registrassem esse momento através de fotos, filmagem, desenhos e escritos. Esses registros seriam compartilhados com os amigos em sala de aula. Essa atividade foi muito significativa, pois o fato de levar o travesseiro dos sonhos, repleto de desejos e o livro para casa implicava em estabelecer um vinculo afetivo, um momento de entrega e confiança com os ouvintes familiares e o mundo imaginário do livro.

















Relatando minha experiência vivenciada com as demais educadoras, as mesmas encantadas com o trabalho desenvolvido sugeriram que nós contássemos a história para todos os alunos da escola. Então fizemos um grande círculo no campo de futebol que fica nos fundos da escola, e contamos a história, onde todos puderam participar. Inclusive as educadoras participaram da leitura do livro, foi um momento em que houve uma mobilização de todos.
Com o resultado sensibilizador do projeto, decidi buscar juntamente com mais duas amigas de trabalho uma formação referente à leitura fruitiva que nos desse sustentação nas atividades de leitura. Fizemos uma parceria com a prof.-ª  e Dra. Adair Neitzel, da Universidade do vale do Itajaí. Tivemos alguns encontros onde estudamos muito sobre a “Leitura e Formação Estética; saberes do sensível”. Partindo desse principio tivemos a ideia de levar a leitura além dos muros da escola, então fomos em algumas casas de moradores da comunidade levar a leitura desse livro, professora e alunos. Foi uma experiência impar na história da minha prática enquanto educadora. No caminho por aonde íamos passando, fomos deixando algumas cantigas de roda escritas e ilustradas pelos alunos nas cercas, nos portões, nas caixas do correio e até entregamos pessoalmente para as pessoas que encontrávamos. Nas casas dos moradores fomos muito bem recebidos, foi literatura a flor da pele.






























































Com o intuito de promover a literatura estética e como produto final do projeto criamos um grupo de contação de histórias, nasce o VidArt ( VIDA E ARTE), formado por mim, duas educadoras e as crianças da minha turma. O grupo têm como eixo sustentador a metodologia da leitura fruitiva, que compreende o livro como um objeto a ser apreciado como objeto estético. Entende-se que se a escola conseguir aproximar a criança do livro essa ação reverterá em benefícios no que diz respeito ao desempenho escolar.
Criamos juntamente com a participação dos oficineiros da Educação Integral um POUT-POURRI com as cantigas do livro e parlendas já conhecidas pelas crianças. Foi um sucesso, utilizamos vários ritmos e instrumentos (violão, pandeiro, atabaque, berimbau, bate latas...).
Foi imaginação, fruição, sensibilidade transmitida livremente pelas ações das crianças com o livro, com os ritmos musicais, com os gestos e movimentos do corpo. Era visível que o olhar, a escuta, o toque, o movimento constituíam formas  sensíveis de se apropriarem dos conhecimentos sobre o mundo e sobre nós mesmos nos espaços da escola e da comunidade.
Levamos essa contação e o pout-pourri para diferentes espaços, apresentamos na Mostra Pedagógica da Educação Infantil, no encerramento da formação do PNAIC (Pacto pela Alfabetização na Idade Certa) do nosso município e até fomos convidados pela para levar essa contação em uma formação que a Universidade do Vale do Itajaí estava fazendo no município vizinho, em Navegantes.O convite nos foi feito pela a Prof.ª Cleide J. M. Pareja.














Avaliação

O projeto desafiou as crianças e criou a necessidade de perceber e buscar outras leituras, de apoderar-se de bens culturais ainda guardados pela escrita. A inserção do projeto literário mudou a rotina das crianças da escola, trouxe para as atividades escolares, e para o espaço da sala de aula, tantas vezes considerado tedioso, a ludicidade e a interatividade tão desejada pelas crianças, isso permitiu uma iniciação satisfatória no processo de aprendizagem de leitura.
Posso concluir que não existe receita para que aconteça uma mudança significativa no universo escolar, mas é certo que o primeiro passo já foi dado. Essas crianças que tiveram a oportunidade de vivenciar essas atividades se apropriaram da fantasia, de algo que fez elas entrarem em contato com seus universos pessoais, perceberem a si mesmas. O contato com a literatura, a convivência com a música, redimensionou a realidade e estimulou as crianças no sentido de propor novas possibilidades de olhar para si e para o outro.
Não posso deixar de ressaltar, que foi muito importante oferecer as crianças leituras conhecidas por elas, o fato de começar o projeto com as cantigas já conhecidas, as brincadeiras populares foi uma alavanca para a leitura do livro, foi a partir das cantigas que alçamos um vôo intenso e mergulhamos em uma viagem incrível. Um destaque que posso fazer em relação à aprendizagem é que a leitura garantiu muitos momentos de lazer, promoveu nas crianças a fantasia, conduziu-as ao mundo do sonho, promoveu a motivação para que elas aprendam a ler e inseriu-as em uma comunidade de leitores. Outro ponto satisfatório foi a participação das crianças que ainda não dominavam a leitura fluentemente, pois, por meio das imagens nas rodas de leitura, e por meio da leitura da professora, elas se encorajavam a ler também.
Acredito que alçamos vôos surpreendentes, viajamos rapidamente pelo vasto mundo da literatura, pois hoje as crianças amam os livros de literatura e quanto mais elas forem provocadas na sua capacidade de ser e sentir, mais probabilidade elas terão de ser tornarem adultos felizes e transformadores. Creio que hoje a literatura tem a mesma importância na vida dessas crianças que tem a brincadeira, portanto um lugar especial onde se brinca com a leitura numa surpreendente descoberta do outro. A literatura forneceu na experiência posta em evidencia a prova mais instigante e legítima de que a cada novo ato de leitura, se descobre mais.

Autoavaliação

O trabalho realizado foi de extrema importância para mim, pois consegui provocar nas crianças um grande interesse pela leitura. Avalio esse projeto como uma experiência muito positiva, tomando como referencia as seguintes evidências: As crianças iniciaram-se como leitores e escritores, numa relação efetiva com a linguagem. As professoras que trabalham comigo inseriram-se num processo conscientizador referente à literatura, condição fundamental para exercer a tarefa de formar leitores. Quanto a mim, contribuiu para o fortalecimento das minhas convicções acerca do papel da literatura como capaz de contribuir na formação do sensível, na humanização da escola e dos leitores que nela se constroem.





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