Projeto "CIRCULO DE LEITURA"
Justificativa
Trabalho
em uma escola do campo, com os alunos do 1º e 2º ano. A escola atende os alunos
do pré-escolar ao 5º ano e temos também a Educação Integral integrada. Está
localizada no bairro Medeiros, município de Barra Velha – Santa Catarina. A identidade
da escola do campo é entendida, nesse contexto, não como uma escola restrita
apenas a um espaço geográfico, mas vinculada aos povos do campo – os que vivem
no meio rural com hábitos e costumes específicos, sem abrir mão de uma educação
de qualidade nas diversas áreas do conhecimento. Trata-se de construir uma
prática viva, cheia de vida e mergulhada na realidade do povo do campo. Nessa
direção, esse projeto foi um convite às crianças a ingressarem em um ambiente
mágico. As atividades propostas serviram de provocação e abertura para seduzir
o leitor. Pois moramos no campo, mas em decorrência à modernidade e aos avanços
tecnológicos, vários conceitos e costumes tem se perdido com o passar dos anos,
e um deles é o ato de ler.
O
hábito de leitura não tem sido muito valorizado, não só por parte dos alunos,
mas também por parte de alguns professores e dos próprios pais. Então, tomo
como ponto de partida a literatura concebida como objeto artístico e que gera
mais do que conceitos, pois provoca, remexe e desconstrói o já estabelecido
para criar novos caminhos. Como educadora do campo, preciso cada vez mais,
comprometer-me com a formação humana dos meus alunos em todas as dimensões.
Assim, a literatura tem um lugar especial dentro e fora da minha sala de aula,
um lugar que foi o ponto de partida para o encantamento, a magia, o
desconhecido que se desvela em cada encontro com as palavras. Isso promoveu o
envolvimento meu enquanto educadora, das crianças, dos outros educadores da
escola e da comunidade.
Este
projeto tem como objetivo a formação de leitores tanto na escola como na
comunidade. O tema instigou-me, pelo fato de ser um desafio, pois nós
educadores temos uma grande tarefa: só podemos ensinar os alunos a serem
leitores competentes, lendo muito com eles e para eles. Neste projeto o livro é
apresentado como objeto estético e, desta forma, compreende-se que o mesmo
desperta nas crianças o desejo de ler. Não basta que a escola promova o lúdico,
a brincadeira e a leitura dentro de um clima de prazer. É fundamental que
aprender a ler e a gostar de ler tenha um sentido na vida de cada aluno-leitor.
Que a criança se sinta identificada com o livro lido. A escola é campo fértil
para se produzir leitura, aliás, ela deve ser o espaço para o desenvolvimento
dessas potencialidades, no que se inclui o tornar-se leitor.
Sou
educadora e sei que ocupo um lugar muito especial na sociedade, trabalho com
crianças cheias de vida, de histórias e de vivências. Então deixemo-nos invadir
pelo universo daqueles que sonham com um travesseiro e uma colcha de retalhos.
São esses pedaços de vida, de felicidade, que muitas vezes conservamos na
memória, mesmo quando temos uma vida de correria em nosso dia a dia. São essas
as recordações que temos das histórias que nossos avós, pais e professores nos
contavam permeadas de palavras que muitas vezes faziam parte da nossa cultura e
cheias de aventuras e imaginação dando sentido a grande teia da vida.
Nessas
atividades que serão relatadas o ato de ler histórias encanta as crianças
porque percorre pelo sentimento de cada leitor, invadindo universos repletos de
significação. E ler deve ser algo que suscita o imaginário, desperta emoções e
possibilita a fruição. Ler tem que ser algo desejado, pois a leitura abre
horizontes, onde podemos encontrar os seres mais incríveis. Entendo a criança
como alguém capaz de resguardar seu mundo de fantasia e é preciso que ela
acredite que a leitura é a janela que se abre para conhecer os infinitos mundos
dentro e fora de nós mesmos. É a possibilidade de ouvir, sentir e ver com os
olhos da imaginação; é viajar sem sair do lugar, conhecer outros mundos e poder
sonhar.
As
atividades de leitura inseridas no cotidiano da turma trazem em si a
contribuição no sentido de se construir uma comunidade de leitores mais humanos
e sensíveis. Partimos para essa descoberta e ganhamos asas para voar, pois no
mundo do “faz-de-conta”, tudo é possível: viajar pelo bosque onde mora o lobo,
vestidos maravilhosos em noite de bailes... É um mundo onde todos os desejos
são realizados. Quem não gostaria de viver assim, nem que fosse só até ao bater
da meia-noite?
Objetivos
•Possibilitar
aos alunos práticas de leituras que influenciem no processo de desenvolvimento
individual, tanto na escola como também, ultrapassando os muros da mesma;
•
Propiciar condições para que as crianças possam participar de práticas de
leituras fruitivas, voltadas à manifestação de argumentos e socialização de
experiências leitoras.
•
Recontar histórias conhecidas, recuperando características da linguagem do texto
original;
•
Recitar e explorar as possibilidades lúdicas da linguagem no aspecto fônico:
rima e ritmo (trava-língua, poema e parlendas);
•
Apreciar textos literários compreendendo o livro como um objeto estético,
produtor de prazer e reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e
entretenimento;
•
Ampliar o repertório de histórias e autores conhecidos ao participar de
situações que envolvam diferentes práticas de leitura (roda de leitores, ouvir
histórias lidas pelo professor, leitura nas casas de moradores do bairro,
leitura em mostras pedagógicas...);
•
Promover interações com os professores da escola em diferentes situações de
leitura que envolvam a música e os instrumentos musicais;
Conteúdos
Curriculares
·
Apreciar textos literários.
·
Ler por si mesmo livros literários.
·
Ler textos conhecidos, como cantigas de
roda, parlendas, poemas, trava-língua...
·
Regras de compartilhamento no espaço
escola: ouvir falar.
·
Ordenar elementos de uma história com
bases nas cenas.
·
Descrever personagens, cenários e objetos.
·
Recontar histórias conhecidas,
recuperando características da linguagem do texto original.
·
Recitar e explorar as possibilidades
lúdicas da linguagem no aspecto fônico: rima e ritmo.
·
Interesse por compartilhar opiniões,
ideias e preferências acerca dos livros lidos.
·
Desenvolvimento de estratégias de
argumentação para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos.
Metodologia
Introduzi a dinâmica falando um pouco do
mundo simbólico e do “faz-de-conta”. Então, entreguei a cada criança um pedaço
de fibra, preparando-as para o mágico e o fantástico. Disse que no mundo do
“faz-de-conta” existe seres mágicos e que eles trabalham para realizar os
desejos de todas as pessoas. Então solicitei as crianças que retirassem de
dentro de uma caixinha mágica que eu trouxe, um papelzinho, no papel estava
escrito o nome de algumas cantigas de roda e brincadeiras que foram enviadas
para nós pelas fadas,
( Fui no tororó, Meu galinho, Boi da cara preta, Meu
limoeiro, Mulher rendeira, Onde está a margarida, Capelinha de melão, Pela
estrada a fora, Se essa rua fosse minha, Ciranda cirandinha, Fui na Espanha e
Alecrim). Expliquei que deveríamos cantar essas cantigas porque as fadas
adoravam músicas, e se cantássemos essas cantigas elas ficariam muito felizes e
realizariam nossos pedidos. Então, cantamos as cantigas, combinamos que eu
acompanharia as cantigas com o violão, pandeiro, palmas...
Depois que todos pararam, pedi para
que fechassem os olhos e fizessem um pedido para as fadas. Em seguida, de olhos
abertos, todos imaginaram embrulhando esses pedidos no pedaço de fibra que
receberam. Orientei que os pedidos deveriam ficar bem embrulhadinhos dentro da
fibra. Expliquei que para a realização dos pedidos algumas palavras mágicas
precisavam ser ditas. Assim, todos juntos deveriam repetir as palavras “Salamaleque, salamaleque...bico de
pato...asas de vento...que meus três pedidos, três desejos e pensamento sigam a
contento”.
Então apresentei uma capa de
travesseiro, expliquei que iríamos confeccionar um travesseiro mágico.
Solicitei que todas as crianças colocassem seus pedidos embrulhados na fibra
dentro da capa, assim formamos um
travesseiro cheio de sonhos, de desejos. Depois alinhavei a capa com um fio de
linha de forma que todos os pedidos ficassem ali dentro.
Quando terminamos de cantar pedi que as
crianças procurassem em algum lugar na sala um objeto que as fadas haviam
deixado ali, eles procuram e encontraram uma fronha de travesseiro feita com
retalhos e dentro da fronha estava o livro “CADÊ MEU TRAVESSEIRO”, de Ana Maria
Machado.
Ficaram surpresos com o achado! E então
correram e me mostraram o que encontraram. Então fiquei muito surpresa também
com o livro e a fronha, e questionei se alguém sabia explicar para que serviria
aquela fronha e aquele livro?
Expliquei que a fronha serviria para
colocar em nosso travesseiro mágico e colocamos. Convidei a todos para viverem
um momento de aventura, falei que faríamos uma viagem pelo país das
brincadeiras, das cantigas infantis e dos contos de fadas. De pergunta a sonolenta
Isadora e passando pelo Tororó, pelo bosque onde mora o lobo e outros elementos
das histórias infantis, chega ao aconchegante país do sono, onde um príncipe
muito especial a espera! Assim é a história que vamos ler....
Então, solicitei que ficássemos em
círculo, cada aluno com sua almofada, no centro estendi a colcha de retalhos e
coloquei o travesseiro. Comecei a ler a história de maneira sedutora, prazerosa
e envolvente, me mostrava para crianças uma leitora de histórias absolutamente
apaixonada pelo mundo do “faz-de-conta”. No decorrer da leitura cantava as
cantigas de roda sempre utilizando algum instrumento, violão, pandeiro e
tambor. Elas estavam envolvidas afetivamente com o livro, na hora que eu
começava a cantar ou fazer as brincadeiras de roda, todas me acompanhavam
rapidamente, era uma troca de olhares que despertava o sentimento de pertença e
identificação, além de nos inserir no contexto do livro. Quando terminei de
ler, elas todas numa só voz pediram que eu lesse o livro novamente.
Então é claro que atendi a solicitação, depois de ler o livro sugeri que cada criança levasse o livro um dia para casa junto com o travesseiro mágico, elas iriam ler o livro com sua família. Solicitei que registrassem esse momento através de fotos, filmagem, desenhos e escritos. Esses registros seriam compartilhados com os amigos em sala de aula. Essa atividade foi muito significativa, pois o fato de levar o travesseiro dos sonhos, repleto de desejos e o livro para casa implicava em estabelecer um vinculo afetivo, um momento de entrega e confiança com os ouvintes familiares e o mundo imaginário do livro.
Então é claro que atendi a solicitação, depois de ler o livro sugeri que cada criança levasse o livro um dia para casa junto com o travesseiro mágico, elas iriam ler o livro com sua família. Solicitei que registrassem esse momento através de fotos, filmagem, desenhos e escritos. Esses registros seriam compartilhados com os amigos em sala de aula. Essa atividade foi muito significativa, pois o fato de levar o travesseiro dos sonhos, repleto de desejos e o livro para casa implicava em estabelecer um vinculo afetivo, um momento de entrega e confiança com os ouvintes familiares e o mundo imaginário do livro.
Relatando minha experiência vivenciada
com as demais educadoras, as mesmas encantadas com o trabalho desenvolvido
sugeriram que nós contássemos a história para todos os alunos da escola. Então
fizemos um grande círculo no campo de futebol que fica nos fundos da escola, e
contamos a história, onde todos puderam participar. Inclusive as educadoras
participaram da leitura do livro, foi um momento em que houve uma mobilização
de todos.
Com o resultado sensibilizador do
projeto, decidi buscar juntamente com mais duas amigas de trabalho uma formação
referente à leitura fruitiva que nos desse sustentação nas atividades de
leitura. Fizemos uma parceria com a prof.-ª
e Dra. Adair Neitzel, da Universidade do vale do Itajaí. Tivemos alguns
encontros onde estudamos muito sobre a “Leitura e Formação Estética; saberes do
sensível”. Partindo desse principio tivemos a ideia de levar a leitura além dos
muros da escola, então fomos em algumas casas de moradores da comunidade levar
a leitura desse livro, professora e alunos. Foi uma experiência impar na
história da minha prática enquanto educadora. No caminho por aonde íamos
passando, fomos deixando algumas cantigas de roda escritas e ilustradas pelos
alunos nas cercas, nos portões, nas caixas do correio e até entregamos
pessoalmente para as pessoas que encontrávamos. Nas casas dos moradores fomos
muito bem recebidos, foi literatura a flor da pele.
Com o intuito de promover a literatura
estética e como produto final do projeto criamos um grupo de contação de
histórias, nasce o VidArt ( VIDA E ARTE), formado por mim, duas educadoras e as
crianças da minha turma. O grupo têm como eixo sustentador a metodologia da
leitura fruitiva, que compreende o livro como um objeto a ser apreciado como
objeto estético. Entende-se que se a escola conseguir aproximar a criança do
livro essa ação reverterá em benefícios no que diz respeito ao desempenho
escolar.
Criamos juntamente com a participação
dos oficineiros da Educação Integral um POUT-POURRI com as cantigas do livro e
parlendas já conhecidas pelas crianças. Foi um sucesso, utilizamos vários
ritmos e instrumentos (violão, pandeiro, atabaque, berimbau, bate latas...).
Foi imaginação, fruição, sensibilidade
transmitida livremente pelas ações das crianças com o livro, com os ritmos
musicais, com os gestos e movimentos do corpo. Era visível que o olhar, a
escuta, o toque, o movimento constituíam formas
sensíveis de se apropriarem dos conhecimentos sobre o mundo e sobre nós
mesmos nos espaços da escola e da comunidade.
Levamos essa contação e o pout-pourri
para diferentes espaços, apresentamos na Mostra Pedagógica da Educação
Infantil, no encerramento da formação do PNAIC (Pacto pela Alfabetização na Idade
Certa) do nosso município e até fomos convidados pela para levar essa contação em
uma formação que a Universidade do Vale do Itajaí estava fazendo no município
vizinho, em Navegantes.O convite nos foi feito pela a Prof.ª Cleide J. M. Pareja.
Avaliação
O projeto desafiou as crianças
e criou a necessidade de perceber e buscar outras leituras, de apoderar-se de
bens culturais ainda guardados pela escrita. A inserção do projeto literário
mudou a rotina das crianças da escola, trouxe para as atividades escolares, e
para o espaço da sala de aula, tantas vezes considerado tedioso, a ludicidade e
a interatividade tão desejada pelas crianças, isso permitiu uma iniciação satisfatória
no processo de aprendizagem de leitura.
Posso concluir que não existe
receita para que aconteça uma mudança significativa no universo escolar, mas é
certo que o primeiro passo já foi dado. Essas crianças que tiveram a
oportunidade de vivenciar essas atividades se apropriaram da fantasia, de algo
que fez elas entrarem em contato com seus universos pessoais, perceberem a si
mesmas. O contato com a literatura, a convivência com a música, redimensionou a
realidade e estimulou as crianças no sentido de propor novas possibilidades de
olhar para si e para o outro.
Não posso deixar de ressaltar,
que foi muito importante oferecer as crianças leituras conhecidas por elas, o
fato de começar o projeto com as cantigas já conhecidas, as brincadeiras
populares foi uma alavanca para a leitura do livro, foi a partir das cantigas
que alçamos um vôo intenso e mergulhamos em uma viagem incrível. Um destaque
que posso fazer em relação à aprendizagem é que a leitura garantiu muitos
momentos de lazer, promoveu nas crianças a fantasia, conduziu-as ao mundo do
sonho, promoveu a motivação para que elas aprendam a ler e inseriu-as em uma
comunidade de leitores. Outro ponto satisfatório foi a participação das
crianças que ainda não dominavam a leitura fluentemente, pois, por meio das
imagens nas rodas de leitura, e por meio da leitura da professora, elas se
encorajavam a ler também.
Acredito que alçamos vôos
surpreendentes, viajamos rapidamente pelo vasto mundo da literatura, pois hoje
as crianças amam os livros de literatura e quanto mais elas forem provocadas na
sua capacidade de ser e sentir, mais probabilidade elas terão de ser tornarem
adultos felizes e transformadores. Creio que hoje a literatura tem a mesma
importância na vida dessas crianças que tem a brincadeira, portanto um lugar
especial onde se brinca com a leitura numa surpreendente descoberta do outro. A
literatura forneceu na experiência posta em evidencia a prova mais instigante e
legítima de que a cada novo ato de leitura, se descobre mais.
Autoavaliação
O trabalho realizado foi de
extrema importância para mim, pois consegui provocar nas crianças um grande
interesse pela leitura. Avalio esse projeto como uma experiência muito
positiva, tomando como referencia as seguintes evidências: As crianças
iniciaram-se como leitores e escritores, numa relação efetiva com a linguagem.
As professoras que trabalham comigo inseriram-se num processo conscientizador
referente à literatura, condição fundamental para exercer a tarefa de formar
leitores. Quanto a mim, contribuiu para o fortalecimento das minhas convicções
acerca do papel da literatura como capaz de contribuir na formação do sensível,
na humanização da escola e dos leitores que nela se constroem.
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